Foto: Arquivo pessoal
Por:Pedro Henrique Sperber
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São muitos os clubes que ainda não possuem profissionais da psicologia em seu corpo técnico. No Campeonato Brasileiro de 2024, seis das 20 equipes do torneio não possuíam especialistas na área: Athletico-PR, Cuiabá, Flamengo, Grêmio, Internacional e Juventude atuaram na temporada sem um departamento especializado. O São Paulo até possui um departamento, mas jogou durante boa parte do ano sem uma pessoa perita no assunto. O número mostra que psicologia no esporte, para muitos, ainda é um tabu.
A temporada maçante no futebol brasileiro, que tem no cardápio as longas viagens e o alto nível de desgaste físico e mental dos atletas, vem levantando o debate sobre a importância do tratamento psíquico em quem sofre dentro e fora das quatro linhas. Para além do universo futebolístico, jogadores de alto rendimento possuem questões extra-campo que impactam no seu desempenho nos gramados, é o que conta Cleiton Carvalho, mental coach de atletas.
“O mental coach dentro do futebol tem como missão ajudar o atleta na construção dos seus objetivos e metas; trabalhar o foco, a confiança, concentração e a resiliência dentro dele, além de ajudar o atleta a saber lidar com essa pressão e cobrança. Nas últimas semanas, o Hugo (goleiro do Corinthians) falou que o futebol pra ele é mais do que 80% mental, porque é muita cobrança. Muitas das vezes o atleta não sabe lidar com isso, até porque ele nunca treinou o mental, mas sim o tradicional, que é o físico, técnico e tático. O mental coach veio pra ajudar a criar as estratégias de crescimento e alavancagem de carreira.” disse Cleiton.
No programa Jovem Pan no Mundo da Bola, comandado por Flávio Prado, o coach contou sobre o seu trabalho orientando atletas e ainda explicou que o papel dele tem diferenças com relação ao de um psicólogo.
“Eu costumo dizer que, quando eu percebo que um atleta não está preparado para um coaching, mas precisa de um trabalho mais clínico e terapêutico, sempre indico ele a um psicólogo. É muito importante o coach ter o entendimento de que não é um terapeuta, que ele não vai ajudar atletas com depressão, ansiedade e crises de pânico.” contou.
Com relação às maiores dificuldades impostas pelo mundo do futebol nos dias atuais, Cleiton destacou a pressão midiática e o ambiente hostil que passou a ser corriqueiro no esporte.
“É um dos maiores desafios (as críticas e cobranças). O torcedor e a mídia querem que o atleta seja perfeito, que ganhe todas as partidas, se ele é um atacante querem que faça seus gols, mas ele é um ser humano. O Gabigol, inclusive, falou que por alguns momentos passou por essa dificuldade, que as pessoas queriam que ele fosse perfeito. Quando o atleta não tem o trabalho mental, ele acaba indo muito no que as pessoas estão falando sobre ele. Para mim, é um massacre o que ocorre quando um atleta falha ou perde um pênalti. Então, se ele não tiver esse trabalho, ele pode acabar se perdendo nesse caminho. Se o atleta tiver paz e alegria, ele vai ter felicidade e vai conseguir desempenhar com performance.” esclareceu o coach.
Perguntado sobre o impacto dos clubes não possuírem trabalho psicológico no corpo técnico, Cleiton enfatizou a necessidade de ter, a fim de obter maiores resultados dentro de campo. Ele ainda deixa claro que essa realidade não é uma exclusividade do Brasil e que no futebol europeu a situação é parecida.
“Todos os clubes que desejam ser campeões precisam de um departamento de psicologia. Na Seleção Brasileira, nos últimos mundiais, perdemos muito pelo mental. Não entendo por que algumas gestões não olham para isso, não dão importância. Já ouvi diretor de futebol dizendo que ‘meus atletas não são malucos, não precisam disso’. Estamos em 2024 e ainda tem gente que quer desvalorizar um profissional que pode ajudar e contribuir para o sucesso de um time, eu não consigo entender o porquê disso. Na Europa tem toda uma questão de adaptação, mas os clubes e a torcida também querem resultados. Alguns clubes da Europa fazem esse trabalho, o Manchester City e outros, mas não todos. Eu trabalho com atletas na Europa e tem alguns clubes que não tem esse trabalho. Não é uma questão nossa de atraso, é um entendimento como um todo.”
Cleiton trabalha ativamente com Luiz Henrique, um dos principais nomes do futebol brasileiro em 2024. O jovem de 23 anos, que voltou do futebol europeu para atuar no Rio de Janeiro, chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira e foi um dos nomes que deram esperança para Dorival Jr. nas últimas partidas nas Eliminatórias, marcando gols contra Chile e Peru.
No entanto, 2024 foi um ano turbulento para o menino revelado pelo Fluminense e que hoje atua no Fogão: Luiz Henrique foi acusado de participar de um esquema de apostas. Em outubro deste ano, o Governo da Espanha abriu investigação contra o jogador quando ele ainda atuava no Real Betis. A CPI das Apostas, que ainda segue no Senado Federal, chegou a convocá-lo para depor no plenário, mas por conta do calendário seu depoimento precisou ser cancelado.
Apesar de tudo, Luiz Henrique se manteve forte e com o trabalho de Cleiton fora dos gramados alcançou glórias históricas para sua carreira: ganhou o Brasileirão e a Libertadores da América em 2024, sendo eleito o Melhor Jogador da América.
“O meu trabalho ajudou muito a ele (Luiz Henrique) focar e estar com a mente blindada somente no futebol. O que eu ensino para ele é viver o dia a dia, estar focado no trabalho dele. Eu acho interessante que ele dificilmente traz essas coisas nas nossas sessões. Aquilo que eu ensino ele vai aplicando. E por isso que eu falo que ele é muito forte mentalmente. Diante de tudo isso que aconteceu com ele, conseguiu performar em alto nível, ser o melhor jogador do Brasil e da América, ter resultados extraordinários.” exaltou o coach.
O trabalho de Cleiton, um mental coach, aliado com a psicologia, dentro do esporte, pode ser a fórmula mágica para o sucesso de atletas de alto rendimento na atual conjuntura futebolística. Afinal, apesar de serem jogadores, eles seguem sendo seres humanos. Pode até parecer, mas não é só futebol.
Essa matéria jornalística e as fotografias são de autoria e responsabilidade do site Jovem Pan.
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